Ney Pereira mostra habilidade com a bola: ex-jogador
não dispensa uma pelada (Foto: Flávio Dilascio)
Carioca, boleiro e extremamente espontâneo. Assim é o homem que tem a missão de comandar a equipe de futsal mais importante do planeta. Novo técnico da seleção brasileira, Ney Pereira não dispensa uma pelada – joga uma média de quatro por semana – e ainda encontra tempo para ensinar futsal às crianças, umas de suas grandes paixões. Morador do Grajaú, na Zona Norte do Rio, o ex-jogador resume suas qualidades em uma única característica: a informalidade no trato com os atletas.
- Gostam de mim porque eu sou leal na parada. Se eu estou chamando o Falcão é porque ele está bem. Se um dia ele estiver mal, ele não vai vir. Você tem que ser o mais claro possível com o jogador. Dou o máximo de satisfação a eles. Se o cara não está bem, eu digo para ele o porquê de ele não estar jogando. Essa é a minha grande vantagem – afirmou em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
Assumindo uma equipe que vem de dois títulos mundiais, Ney explicou que não pretende implementar uma grande renovação na seleção em um primeiro momento. Em sua convocação de estreia, o treinador revelou que tentará convocar o máximo possível de atletas presentes na conquista de 2012 na Tailândia.
Afastado do cenário nacional do futsal desde 2010, quando deixou o São José, Ney Pereira comentou sobre os motivos pessoais que o levaram a passar os dois últimos anos mais próximo da família. Maior vencedor de Estaduais no país, ele ressaltou que esteve se reciclando e não deixou de ter contato com o futsal no período de afastamento.
Treinador da seleção concilia função com suas escolinhas de futsal (Foto: Flávio Dilascio)
O jeito Ney Pereira de ser
“Existe uma situação no futsal que é uma m..., porque não tem aquela divulgação diária do futebol. Você me entrevista hoje e só volta a falar comigo daqui a alguns meses. Gostam de mim porque eu sou leal na parada. Se eu estou chamando o Falcão é porque ele está bem. Se um dia ele estiver mal, ele não vai vir. Aquela coisa que aconteceu entre o Ganso e o Dorival Junior (em 2010, no Santos, quando o jogador recusou ser substituído em uma partida) para mim acabaria ali. Fiquei doente quando vi aquilo. Eu entraria no campo e falaria para o juiz: ele está fora. Mesmo que isso custasse o meu emprego. Jogadores sabem que eu não aceito insubordinações. Para trabalhar comigo tem que ser profissional. Você tem que ser o mais claro possível com o jogador. Dou o máximo de satisfação a eles. Se o cara não está bem, eu digo para ele o porquê de ele não estar jogando. Essa é a minha grande vantagem. Dou treinos dinâmicos, alegres, brinco com os jogadores, sento para jantar com eles.
Ney posa em frente à galeria de troféus do Grajaú
Country Clube: segunda casa (Foto: Flávio Dilascio)
Vida pessoal
“Dou aulas de futsal em uma escola com unidades em Barra, Recreio e São Conrado. Tenho alunos a partir dos 3 anos. Sou eu e mais quatro professores sob a minha supervisão. Adoro trabalhar com crianças, trabalho com isso desde quando eu jogava. Entrei nessa escola em 1981 e tive idas e vindas até ficar lá de vez. Jogo pelada no mínimo quatro vezes por semana. Na terça eu tenho a pelada aqui no Country com ex-jogadores do futsal carioca”.
Afastamento
“Em 2010 fui trabalhar no São José, mas acabei deixando clube depois de dois meses. Minha mãe morava sozinha em Teresópolis e eu precisava ficar indo e voltando o tempo todo para cuidar dela. Ela tem Alzheimer e hoje está com 90 anos. Em um primeiro momento, ela não aceitava ter enfermeiro acompanhante e eu passei a ter de me dedicar a ela. O meu vínculo naquele período passou a ser com a minha mãe”.
Últimas atividades
“Com o problema da minha mãe, resolvi trazê-la para o Rio para morar comigo. Apesar de estar fora do cenário, não fiquei parado. Comecei a dirigir o Grajaú Country, montei equipes sub-20 e adulto, mas também não me estendi muito por diversos fatores. Procurei me reciclar também. Acompanhei todos os eventos e competições do futsal nesse período. O trabalho da seleção caiu do céu porque eu não preciso me mudar do Rio. Vou viajar muito, mas posso continuar mantendo residência aqui.”
O chamado para a seleção
“Já imaginei que eu pudesse ser chamado quando o Edson Domingues Nogueira assumiu a diretoria de seleções. Já nos conhecíamos há muito tempo e sabia que, mais cedo ou mais tarde, a minha oportunidade iria surgir. Me sinto como em uma corrida de Fórmula 1. Fui ultrapassado, mas meu carro ainda pode vencer porque eu fiquei fora de várias provas. Agora será o verdadeiro teste para chegar em primeiro. Mereci essa convocação pelo meu passado e não pelo meu presente.”
Primeiros objetivos
“Em um primeiro momento, não vamos ter grandes trocas. Vamos tentar manter 80% das últimas convocações para o Circuito Sul-Americano (de 22 a 24 de março, em Uberlândia). Alguns jogadores não estão disponíveis para vir e serão substituídos por alguns mais novos. Os atletas do Barcelona e os da Rússia dificilmente virão. Não podemos mudar muito, porque precisamos de resultados”.
Ney não pretende fazer grandes mudanças na seleção em um primeiro momento (Foto: Flávio Dilascio)
Principais trabalhos
“Fui o primeiro treinador da inclusão do futsal profissional no Vasco, nos anos 90. Trouxemos nomes conhecidos como Cacau, Lavoisier e Rabicó. Em 1997, jogamos 33 jogos, ganhamos 31, empatamos um e perdemos outro. Fui demitido porque perdemos justamente a final do Carioca para o Iate Clube, que tinha craques como Sandrinho, Vander Carioca, Serginho e Waguinho. Enfim, era uma seleção. Fui campeão paulista, gaúcho, mineiro, goiano, pernambucano. Sou o técnico que mais rodou no Brasil. Iniciei a minha carreira de treinador em 1985, na Bradesco, e tive o meu auge em uma época em que não se pagava muito na função. Poderia estar rico hoje. Fui campeão do brasileiro de seleções por Sergipe, em 2009”.
Passagem pelo Vasco em 2009
“Passei pelo Vasco em 2009, no último ano em que o clube disputou a Liga Futsal. Foram só dois meses dirigindo o time na Liga. Nossa equipe era formada por jogadores sub-20 e eu acabei tendo problemas com o nosso gestor. Expliquei para ele que nós entramos para a competição para ganhar experiência, porque não tínhamos elenco para brigar pelo título, e ele não compreendeu isso”.
Carreira como jogador
“Comecei a jogar no Grajaú Tênis em 1969 e em 1973 conquistei o meu primeiro título como jogador, já atuando pelo Grajaú Country. Não joguei categorias de base, fui aspirante do Botafogo, mas não virei profissional. Fiquei no salão porque dava para conciliar com a faculdade de Educação Física. Joguei em praticamente todos os times do Rio. Passei por Flamengo, Fluminense, Vasco, América, Monte Sinai, onde ganhei Carioca e Brasileiro em 1981, e Bradesco onde fui campeão sul-americano”.
Por Flávio Dilascio
Rio de Janeiro
Por Flávio Dilascio
Rio de Janeiro
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